Vários estudos importantes  sobre o papel da vitamina D na saúde de crianças e adolescentes tem sido realizados, principalmente  porque o nível dessa substância pode estar associado a um maior risco de algumas doenças,  como doenças auto-imunes (diabetes tipo 1, artrite reumatóide e esclerose múltipla), hipertensão arterial, deficiência imunológica e algumas neoplasias na vida adulta (câncer de mama, próstata e cólon). Como a vitamina D é uma importante reguladora dos níveis de cálcio e fósforo no nosso organismo, seus níveis reduzidos também estão associados a doenças ósseas.

A vitamina D, que na sua forma ativa é na verdade é um hormônio, também está ligada a vários outras funções do nosso organismo, entre eles a síntese de antibióticos naturais produzidos pelas nossas células de defesa, o controle da pressão arterial, e por ter participação na multiplicação e diferenciação celular, é atribuído à ela um fator anti-cancerígenos.

O endocrinologista-pediatra Luiz Cláudio Castro explica que como apenas de 10 a 20% da vitamina D provêm da dieta (peixes gordurosos de água fria e profunda, como o salmão, atum, e os fungos comestíveis), o restante deve ser sintetizado pelo próprio indivíduo. “Para que ocorra essa produção, é fundamental uma adequada exposição solar, uma vez que o processo inicial de ativação da vitamina D ocorre com a incidência dos raios ultravioleta B sobre a nossa pele, onde está a substância precursora, chamada  7-deidrocolesterol, que está armazenada nas camadas profundas da epiderme, que é a camada mais superficial da pele”, explica o especialista.

O doutor comenta também que mesmo o Brasil sendo um país tropical, com incidência solar estável ao longo de todo o ano em quase todas as Regiões geográficas, os estudos apontam que uma parte significativa da população, inclusive da faixa etária pediátrica, apresenta níveis insuficientes de vitamina D, e as principais causas são a baixa exposição ao sol e o uso indiscrimnado de protetores solares, que bloqueiam a síntese cutânea da vitamina D. É reconhecida a importância dos cuidados que devemos ter com a exposição ao sol, pois o excesso ou a exposição em horários inadequados podem ter efeitos maléficos, mas deve haver bom senso no momento e a forma correta de se usar o protetor solar. “Esse contexto é preocupante, pois uma taxa de vitamina D abaixo do ideal em crianças e adolescentes pode comprometer a saúde óssea, o crescimento e o desenvolvimento deles, com repercussões que podem se manifestar ao longo da vida.”, diz o médico.

Diagnóstico e tratamento

É importante que crianças e adolescentes que apresentem algum fator de risco para baixos níveis de vitamina D tenham seus níveis checados pelo médico que os acompanham. Entre os indivíduos que apresentam fatores de risco estão:

• As crianças com pouca ou nenhuma exposição ao sol
• Crianças que usam medicamentos que podem comprometer a síntese de vitamina D, como glicocorticóides, imunossupressores e anticonvulsivantes
• Crianças que apresentam doenças auto-imunes, como o diabetes tipo 1, lupus, artrite juvenil idiopática e doença celíaca
• Crianças que foram submetidas a transplante de algum órgão, pois em geral fazem uso de imunossupressores ou tem contra indicação de exposição ao sol pelo risco de desenvolverem melanoma
• Crianças com insuficiência renal crônica, doenças no fígado ou com infecções de repetição

O Dr. Luiz Cláudio diz que os resultados devem ser interpretrados cuidadosamente, e sempre condicionados à situação clínica do paciente, para que assim seja tomada a conduta mais adequada a cada situação. “De acordo com o nível e a causa de insuficiência que a criança apresente, deve-se avaliar a melhor maneira de corrigi-la, seja com uma melhor exposição ao sol, ou  tratamento com reposição da vitamina D.” diz o endocrinologista.

Ele também explica que no Brasil a vitamina D é comercializada pura ou associada à vitamina A, na forma de gotas, mas cada formulação apresenta uma concentração diferente.  “A dose e o tempo de tratamento são específicas para cada caso, assim como o momento de fazer a reavaliação para conferir se os níveis se normalizaram”, diz o médico, que complementa dizendo que em 2011, a The Endocrine Society disponibilizou suas diretrizes sobre tratamento e prevenção da deficiência de vitamina D, contemplando também a faixa etária pediátrica.

Finalizando, o médico diz que é importante que durante as consultas médicas de rotina, pais e pediatras conversem sobre todos esses aspectos relacionados à suficiência de vitamina D. “Todo esse cuidado é necessário para garantir às crianças e  adolescentes  a saúde óssea,  adequando crescimento e pleno desenvolvimento de suas funções físicas e psíquicas”, diz o especialista.